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Publicado em: 02 Junho 2025

Os desafios da adoção do marketing no 3º setor em tempos digitais

Artigo de opinião de Adriano Andreghetto, docente do Mestrado em Gestão das Organizações do 3º Setor da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto.

O marketing tem vindo a consolidar-se como uma ferramenta estratégica essencial para o sucesso organizacional, independentemente da natureza da instituição. No entanto, no contexto do 3º setor, a adoção de práticas de marketing continua a ser um desafio persistente. As organizações sem fins lucrativos enfrentam entraves que vão desde a escassez de recursos humanos e financeiros até a uma compreensão limitada das ferramentas e estratégias de marketing contemporâneas.

Apesar de se reconhecer que estas organizações operam com missões sociais nobres, a ausência de uma cultura de marketing estruturada leva, muitas vezes, à falta de visibilidade, à dificuldade em atrair financiadores e voluntários e à baixa adesão aos serviços disponibilizados. O problema torna-se mais evidente quando se constata que muitas vezes o marketing está ainda associado a uma ideia de "venda" ou de estratégia comercial, esquecendo o seu potencial para gerar impacto social positivo, construir relações duradouras com a comunidade e mobilizar recursos.

Outro desafio central prende-se com a ausência de pessoal qualificado. Muitas vezes, o marketing é gerido por voluntários ou técnicos com pouco conhecimento na área, o que dificulta a criação de planos estratégicos consistentes, a análise de dados de performance ou a gestão de campanhas integradas. A par disso, os orçamentos reduzidos obrigam as organizações a tomar decisões com base na urgência e não na estratégia, sacrificando frequentemente a comunicação institucional.

Neste contexto, o digital apresenta-se simultaneamente como um desafio e uma oportunidade. A ausência de conhecimento sobre tecnologias digitais, redes sociais ou plataformas de gestão de conteúdos limita o alcance das organizações. Mas, quando bem trabalhado, o digital pode ser uma alavanca poderosa: permite ampliar a visibilidade, captar e fidelizar doadores, envolver voluntários e aproximar as organizações das comunidades que servem.

As redes sociais, por exemplo, oferecem canais de comunicação directos e de baixo custo que, usados estrategicamente, podem transformar a percepção do público e aumentar o impacto das campanhas. A utilização de newsletters, vídeos institucionais e testemunhos de beneficiários são formas eficazes de contar histórias, gerar empatia e promover o envolvimento.

Para tal, é necessário que o 3º setor invista em formação e capacitação na área do marketing e desenvolva competências internas. O futuro do 3º setor passa, inevitavelmente, por uma maior competência em marketing e comunicação. Num ecossistema onde as causas se multiplicam e os recursos são limitados, apenas as organizações capazes de comunicar de forma clara, coerente e envolvente conseguirão manter-se relevantes, captar apoio e maximizar o seu impacto social.

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