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Publicado em: 04 Maio 2020

Tomada de decisão em ambiente de incerteza

Artigo de opinião de Luis Lima, docente na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto.

O momento que atravessamos, com a pandemia COVID 19, é, infelizmente, um bom exemplo de necessidade de tomada de decisão em ambiente de incerteza. Pelo mundo fora assiste-se à tomada de decisões mais diversas para enfrentar um problema comum. Perante o mesmo problema, e embora com contextos socioeconómicos diversos, foram seguidas abordagens muito diferentes. A decisão sobre o confinamento é ilustrativa: em alguns países foi instituída como medida obrigatória, noutros como voluntária (mas vivamente recomendada), noutros ainda, em muito menor número, foi permitida a liberdade de circulação. Acreditamos que todos os governantes decidiram considerando o melhor interesse dos seus países e bem-estar das populações.

Nos países onde foi instituído o confinamento, incluindo Portugal, será agora necessário decidir quando este termina e com que grau de progressividade. Quais as atividades que retomam mais cedo, só as que têm maior impacto direto na retoma da economia? E a educação? E as atividades culturais? E o desporto?

A tomada de decisão não é fácil pois terá de compatibilizar dois critérios principais, conflituantes entre si: retoma rápida da economia e salvaguarda da saúde pública. Como compatibilizar essa retoma com a contenção do contágio, para não ser necessário “dar um passo atrás”?

No modelo racional clássico, o “homem económico” (Simon 1955) teria um conhecimento absoluto, ou quase, do mundo que o rodeia e um sistema de preferências perfeitamente organizado. Possuiria também uma capacidade de cálculo que lhe permitiria avaliar todas as possíveis alternativas de decisão disponíveis e respetivas consequências, selecionando aquela com maior valor na sua escala de preferências. Entretanto, o próprio Simon contrapôs a esta teoria clássica um modelo de racionalidade limitada (Simon 1997), introduzindo o conceito de decisões satisfatórias. Uma alternativa é satisfatória quando: i) existe um conjunto de critérios que descreve um mínimo de satisfação para as alternativas e ii) a alternativa escolhida satisfaz esses critérios. Ficam assim cobertas as situações, mais próximas da realidade, em que não é viável gerar todas as alternativas possíveis nem é possível procurar a alternativa ótima.

O contexto de incerteza que atravessamos aponta para o modelo de racionalidade limitada, sugerindo-nos um processo de tomada de decisão multicritério. As alternativas possíveis terão de ser analisadas em confronto com critérios conflituantes entre si. Não há uma alternativa ideal, tornando-se necessário estabelecer compromissos e identificar a solução que permite um melhor balanceamento entre os critérios em presença.

Simon, H. A. (1955). "A behavioral model of rational choice." The Quarterly Journal of Economics: 99-118.

Simon, H. A. (1977). The new science of management decision, Prentice-Hall.

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